Nos últimos anos, o interesse em medicamentos reutilizados para tratar o câncer cresceu significativamente. Entre eles, o fenbendazol, um anti-helmíntico amplamente usado em veterinária, ganhou destaque devido aos seus potenciais efeitos anticancerígenos. Este artigo explora os mecanismos de ação, estudos recentes e os desafios que impedem o uso clínico do fenbendazol em humanos.
Embora o antiparasitário fenbendazol não seja aprovado pela reguladora americana FDA para uso humano, há extensas evidências de efeitos antineoplásicos na literatura publicada, tanto in vitro quanto in vivo, e este não é um medicamento controverso, como tem sido feito para ser.
O fenbendazol tem um excelente perfil de segurança e seu parente próximo, o mebendazol é aprovado pela FDA, e está passando por vários ensaios clínicos para tratamentos de câncer nos EUA agora, incluindo cânceres de cólon e cânceres cerebrais.
O fenbendazol pertence à classe dos benzimidazóis, conhecida por sua eficácia no combate a vermes parasitas desde a década de 1960. Estudos recentes destacam que essa droga também pode atuar contra células cancerígenas, aproveitando dois principais mecanismos:
- Atividade Antimitótica: O fenbendazol inibe a polimerização da tubulina, uma proteína essencial para a divisão celular, levando à interrupção do ciclo celular em células de rápida proliferação, como células tumorais.
- Indução de Estresse Oxidativo: Ao interromper processos metabólicos celulares, o fenbendazol promove o acúmulo de espécies reativas de oxigênio (ROS), induzindo a morte celular programada (apoptose).
Artigos científicos e Artigos Revisados:
- 2023 Jun – Movahedi et al – Reaproveitamento de drogas benzimidazólicas antiparasitárias como quimioterápicos anticancerígenos seletivos
- 2023 Abr – Chi-Son Chang et al – Efeito anticâncer de nanopartículas de PLGA incorporadas ao fenbendazol no câncer de ovário
- 2023 Mar – Semkova et al – Atividade anticancerígena mediada por redox da droga antiparasitária fenbendazol em células de câncer de mama triplo-negativas
- 2023 Mar – Haebeen Jung et al – Efeitos citotóxicos diferenciais do fenbendazol em células EL-4 de linfoma de camundongo e células do baço
- 2022 Set – Deokbae Park et al – Efeitos anticancerígenos do fenbendazol em células cancerosas colorectal resistentes a 5-fluorouracila
- 2022 Jan – Li-wen Ren et al – Benzimidazóis induzem apoptose e piroptose simultâneas de células de glioblastoma humano via interrupção do ciclo celular
- 2020 Ago – Deok-Soo Son et al – Os Potenciais Antitumorais dos Anti-helmínticos Benzimidazólicos como Reaproveitamento de Drogas
- 2020 Jun – Yong Han et al – Envolvimento de espécies reativas de oxigênio na atividade anticancerígena do fenbendazol, um anti-helmíntico benzimidazol (leucemia)
- 2018 Aug – Dogra et al – O fenbendazol atua como um agente desestabilizador moderado de microtúbulos e causa morte de células cancerígenas modulando múltiplas vias celulares
Mecanismos Anticancerígenos Comprovados
Diversos estudos revisados destacam o fenbendazol como uma droga promissora para o tratamento do câncer:
- Inibição de Células Cancerígenas Resistentes: Mostra eficácia contra câncer colorretal resistente a 5-fluorouracil e câncer de ovário quimiorresistente.
- Ativação da Proteína p53: Em alguns tipos de câncer, o fenbendazol estabiliza a p53, uma proteína supressora de tumores, desencadeando apoptose.
- Efeitos Específicos: Demonstrou toxicidade seletiva em células cancerígenas, preservando células saudáveis, como observado em estudos com linfoma de camundongo.
- Indução de Vias Alternativas de Morte Celular: Incluindo autofagia, necroptose e ferroptose, aumentando sua eficácia contra tumores agressivos.
Além disso, os benzimidazóis, incluindo o fenbendazol, inibem a migração celular, a angiogênese (formação de novos vasos sanguíneos que nutrem tumores) e a metástase, tornando-os candidatos promissores para o tratamento de cânceres avançados.
Estudos Relevantes sobre o Fenbendazol
Alguns estudos importantes publicados entre 2018 e 2023 incluem:
- Glioblastoma (2022): Demonstrou interrupção do ciclo celular e indução simultânea de apoptose e piroptose, formas de morte celular programada.
- Câncer de Mama Triplo-Negativo (2023): Induziu estresse oxidativo seletivo, sendo especialmente eficaz contra tipos altamente metastáticos.
- Câncer de Ovário (2023): Nanopartículas contendo fenbendazol melhoraram a biodisponibilidade e demonstraram efeitos anticancerígenos significativos em modelos animais.
- Leucemia (2020): Mostrou-se eficaz ao reduzir a viabilidade celular e induzir apoptose mediada por ROS.
Apesar dos resultados promissores, o uso clínico do fenbendazol enfrenta barreiras significativas:
- Baixa Solubilidade e Biodisponibilidade: A baixa solubilidade em água limita sua eficácia. Pesquisas estão focadas no desenvolvimento de nanoformulações para superar essa limitação.
- Ausência de Aprovação Regulatória: O fenbendazol não é aprovado pela reguladora americana FDA ou pela Agência Europeia de Medicamentos (EMA) para uso humano, restringindo sua aplicação clínica.
- Ensaios Clínicos Escassos: Embora existam estudos avançados com outros benzimidazóis, como o mebendazol, ainda não há ensaios clínicos dedicados ao fenbendazol.
Protocolos Propostos e Relatos Anedóticos
O caso de Joe Tippens, que alegou superar um câncer terminal utilizando fenbendazol combinado com curcumina, óleo de CBD e vitamina E, gerou grande interesse. Embora anedótico, esse relato inspirou protocolos experimentais, como o uso contínuo de fenbendazol em doses específicas.
Os estudos revisados sugerem que o fenbendazol tem múltiplos mecanismos anticancerígenos, sendo eficaz contra diversos tipos de tumores. No entanto, a falta de ensaios clínicos e de aprovação regulatória limita sua aplicação.
Enquanto novas formulações e combinações terapêuticas são investigadas, o reaproveitamento de medicamentos como o fenbendazol representa uma abordagem promissora e acessível na luta contra o câncer